Em decorrência à crescente demanda de abastecimento de alimentos pela população mundial, estima-se que será necessário aumentar a produção global d alimentos em pelo menos 70% para uma população estimada em 10 bilhões de pessoas até 2050. Assim, esse fato levará à necessidade de métodos eficientes e sustentáveis para o controle de pragas na agricultura, pois pesquisas apontam que novos microrganismos causadores de doenças não param de surgir e, desde o ano 2000, o número de fitopatógenos que causam danos à lavoura aumentou mais de sete vezes.
Dessa maneira, dentre as ferramentas existentes, uma em especial vem se tornando cada vez mais popular entre agricultores e consumidores, o controle biológico.
O que é controle biológico?
O controle biológico consiste na potencialização do uso de organismos vivos ou substâncias de ocorrência natural para prevenir, reduzir ou erradicar a infestação de pragas que se instalam em ambientes rurais ou urbanos, e podem transmitir doenças, devorar plantações, dentre outros prejuízos.
Em função da sua natureza, os produtos de origem biológica podem ser categorizados como:
Agentes biológicos de controle: técnica de inseto estéril e inimigos naturais como os parasitóides, predadores e nematóides.
Agentes microbiológicos de controle: bactérias, fungos e vírus.
Bioquímicos: agentes promotores de processos químicos ou biológicos que estimulam e/ou induzem reações na planta como os extratos de plantas, algas, enzimas e hormônios.
Semioquímicos: são os feromônios e aleloquímicos. Essas substâncias evocam respostas comportamentais ou fisiológicas nos organismos receptores (insetos, de modo geral).
Vantagens do controle biológico na agricultura:
A agricultura moderna, caracterizada pela adoção de sistemas de produção baseados na monocultura e o uso intensivo de pesticidas, trouxe inúmeros efeitos negativos para o meio ambiente e para a saúde das pessoas ao provocar a erosão, a contaminação dos solos e mananciais, a perda da diversidade da fauna e flora, o ressurgimento de pragas e a resistência de pragas aos agrotóxicos.
Nesse contexto, o controle biológico torna-se uma ferramenta fundamental no manejo de pragas e doenças agrícolas pois:
trata-se de um método altamente sustentável;
apresenta maior viabilidade econômica;
não polui o meio ambiente;
não provoca desequilíbrios ecológicos;
preserva os recursos naturais;
melhora a qualidade nos alimentos;
contém a proliferação de doenças;
garante maior segurança à saúde dos consumidores, produtores e trabalhadores
Agentes biológicos controladores de pragas:
O clima tropical e o cultivo diversificado do nosso país favorece a proliferação de pragas, e nos coloca em uma posição privilegiada, pois, a partir disso, pesquisadores avaliam a adoção do controle biológico em lavouras de diversas culturas. Entre os agentes biológicos controladores de pragas, podemos destacar:
As vespas Cotesia e Tricogramma, pois controlam pragas importantes, tais como a lagarta do cartucho em milho e a broca da cana, através do parasitismo. Assim, esses organismos passam uma parte significativa do seu ciclo de vida agarradas ao corpo de um único hospedeiro, e o resultado é a posterior morte do indivíduo parasitado.
Vespa Trichogramma. Foto: Edgardo González Carducci.
As joaninhas e insetos que pertencem principalmente às ordens Hymenoptera, Diptera, Coleoptera e Hemiptera, pois apresentam comportamento predatório visto que se alimentam de vários pulgões que atacam espécies de interesse agronômico.
Imagem ilustrativa de uma joaninha. Foto: Escola Britannica
O fungo Beauveria e os vírus do gênero Baculovirus são patógenos muito utilizados para o controle de lagartas, já que causam doenças em insetos-praga, vivendo e se alimentando destes, até levá-los à morte.
Fungo Beauveria bassiana. Foto: Agrivalle.
Regulamentação de agentes de controle biológico:
A tecnologia de liberação de um parasitoide ou predador, por exemplo, precisa levar em consideração a fase de desenvolvimento da cultura, a variedade utilizada, o número de quantidade liberada e a frequência dela, os recipientes de soltura, etc. Assim, os agentes de controle precisam ser analisados pelos órgãos responsáveis e registrados no Ministério da Agricultura.
Eles são regulamentados pela Lei número 7.802, de 11 de julho de 1989, a mesma que regulamenta os agrotóxicos de origem química e são solicitadas informações como qualidade biológica, eficiência e efeitos na saúde humana. Além disso, esses produtos, diferente dos pesticidas químicos, são registrados para o alvo biológico e não para a cultura.
Mercado de biológicos e a perspectiva para o futuro:
Nos últimos anos o controle biológico está se profissionalizando cada vez mais. Graças ao avanço da tecnologia, hoje temos uma maior disponibilidade de recursos para produção, formulação e aplicação dos agentes no campo; maior facilidade de acesso; maior ganho na eficiência e muito mais organismos registrados para o controle de doenças e pragas, que atendem aos anseios da população por uma agricultura mais sustentável.
É importante destacar que o Brasil é líder mundial em agricultura, todavia ainda falhamos em tecnologias sustentáveis e inovadoras. Dessa maneira, estamos vivendo um momento importante para a agricultura brasileira, porque pequenas, médias e grandes empresas estão apostando no desenvolvimento de produtos biológicos cada vez mais aprimorados, com o auxílio da biotecnologia, seja na prospecção ou na manutenção desses agentes.
Esse crescimento no desenvolvimento de produtos está aliado ao desenvolvimento de equipamentos de aplicação como drones e outros dispositivos que permitiram melhorar, cada vez mais, a eficiência dos agentes de controle no campo.
Portanto, chegamos em um momento em que conseguimos transformar o controle biológico na tática principal do manejo integrado de pragas, minimizando a dependência por agrotóxicos, e conseguindo salvar o controle químico e os transgênicos do impacto da resistência das pragas.
Nesse sentido, ainda há muito o que ser feito, entretanto a adesão ao controle biológico representa uma estratégia inteligente e aliada à demanda mundial por tecnologias mais sustentáveis, sem perder a produtividade e qualidade dos produtos agrícolas.
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